Caminho em direção a uma praça, a calçada é de pedra cinza, as pessoas passam por mim sem me olhar:
"As pessoas têm pressa, e a cultura japonesa não é nada generosa em questão de expressar sentimentos... Uma pena, uma cidade tão futurista e tão voltada para o amanhã teria um brilho a mais se pudesse imprimir emoção no que faz... Enfim, cada cidade tem seu espírito próprio." Reflito acerca de Tóquio.
Resolvera deixar a moto no estacionamento do prédio onde estava hospedado, a noite não estava fria e sentia falta de uma caminhada noturna, mesmo que o tempo desse a certeza de uma chuva.
No caminho vejo um templo onde algumas pessoas deixam alguns incensos acesos, o cheiro era doce e suave, cinco pessoas meditavam no local, duas vestidas como monges. Chego na praça e me sento em um banco, observando as cerejeiras típicas do Japão e a forma como o vento soprava suas folhas rosadas pelo chão. O ambiente é calmo, uma mulher no outro banco à esquerda brinca com uma criança, um velho descansa no banco à direita, o mesmo se levanta e vem em minha direção dizendo:
"Meu jovem, tenha seus ouvidos sempre atentos, nas selvas naturais o silêncio prevê as catástrofes, nas selvas de concreto a regra ainda se aplica..."
Ele termina a frase com um sorriso malicioso, um claro sinal de desafio... ou deboche. Me levanto e começo a andar no caminho oposto ao velho, percebendo que as aves voavam todas em uma mesma direção:
"É como se elas estivessem assustadas com alguma coisa... Estão fugindo..."
Um trovão corta o céu, deixando um silêncio assustador no ambiente, o velho, de alguma forma, tinha razão em suas palavras.